Artigo do Policial Rodoviário Federal Heder Macedo para reflexão: "Chega de dor, precisamos de vida"

Artigo do Policial Rodoviário Federal Heder Macedo para reflexão: "Chega de dor, precisamos de vida" Postado segunda-feira, 18 de abril de 2016 ás 14:30

De sexta à domingo, quatro pessoas morreram em acidentes de trânsito na região de Santa Maria. Diante desses acontecimentos, o Policial Rodoviário Federal Heder Macedo, Chefe da Delegacia da PRF em Santa Maria, escreveu um artigo compartilhado, inicialmente, com a imprensa. Pela sua relevância, o Blog Rafael Nemitz repercute o texto intitulado "Chega de Dor, precisamos de vida".

Foto: Divulgação/`PRF.

"Iniciamos uma semana difícil, uma semana de reflexão, reanálise e atenção na busca em diminuir drasticamente o desrespeito e o não entendimento da importância de um fenômeno chamado trânsito.

Sim, o trânsito. Ele é um fenômeno social amplo, fenômeno que permeia várias áreas humanas e científicas. Por definição do Código de Trânsito Brasileiro, conforme o art. 1º, § 1º , trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.

Portanto, no nosso cotidiano, para que possamos ir e vir, chegar ao nossos lugares de trabalho, retornar aos nossos lares, transportar nossos filhos para a escola, visitar parentes e amigos, ir à uma festa e voltar dela, realizar aquela desejada viagem de férias, todos nós somos atores no teatro do trânsito. Mesmo que não queiramos, o trânsito impacta a nossa vida diretamente. Os gêneros que consumimos, alimentos, roupas, medicamentos, os mais variados itens são transportados em sua maioria por vias terrestres, e desde a cadeia primária o transporte dos bens, que processados e beneficiados nos mais diversos lugares, é trânsito. Quando caminhamos em um passeio público (calçada), paramos para embarque ou desembarque de alguém, pedalamos nossas bicicletas, estamos por definição transitando.

Nosso estado psicológico, nosso momento, seja de tristeza, alegria, euforia, decepção, afeta diretamente a maneira como conduzimos nossos veículos e nos comportamos no trânsito. Nossa percepção, nosso nível de atenção, nossas reações e condutas são alterados pelo estado em que nos encontramos.

Importante é salientar que, quando no trânsito, jamais devemos esquecer que estamos no trânsito, nossa concentração, nosso pensamento, nossa atenção, devem estar voltados para a via, para os veículos, para a sinalização, para todo o entorno e para o atendimento das normas de trânsito.

Atender normas no trânsito não é coerção, mas sim VIDA e RESPEITO À COLETIVIDADE. As vias de trânsito são espaços de uso coletivo, e em um espaço de uso coletivo, se não houver normas reguladoras, instauram-se a desordem e o caos. As normas de trânsito são técnicas, embasadas em estudos. As sinalizações reguladoras são aplicadas e implementadas por critérios de engenharia, dependem das declividades das rampas, dos raios de curvatura, enfim, não são inventadas e aplicadas aleatoriamente.

Hoje no trânsito, como reflexo social, observa-se cada vez mais individualismo e defesa dos interesses próprios em detrimento do interesse coletivo e do respeito aos semelhantes. Então, quem não quer perder segundos, opta por ultrapassar veículos em um trecho de serra, com curvas, devidamente sinalizado com faixas duplas contínuas amarelas. Assim, os outros não interessam, talvez o resultado da conduta pouco importa, pois o optante "sabia muito bem o que estava fazendo", "possuía experiência".

O celular toca e são vistos empresários, profissionais liberais, pessoas com formação superior, utilizando smartphones e celulares enquanto dirigem. Quantos já perderam a vida por falta de atenção, por simplesmente desviar o olhar para procurar um objeto em uma bolsa? Quantos?

Terminamos o final de semana com vidas perdidas desnecessariamente, jovens com um futuro pela frente, retirados de ferragens de veículos para serem entregues aos seus familiares. Se isso dói nos agentes que cuidam da segurança nas rodovias, imaginem o quanto dói e continuará doendo em seus familiares.

Sendo o trânsito um fenômeno social, constata-se que os mesmos valores que faltam para salvar nossa sociedade, são os que faltam para que muitas mortes sejam evitadas, e um deles é o RESPEITO, respeito próprio e aos outros. Outro é RESPONSABILIDADE, responsabilidade em lembrar que dirigir um veículo não é uma brincadeira, não pode ser um ato impensado, dirigir não é uma festa, dirigir é sair para chegar, sabendo que sempre há alguém nos esperando.

Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro. Muito tem de ser feito, mas hoje, tristemente, não são as estradas que estão matando as pessoas, como muitos escreveram, são as pessoas que estão se matando nas estradas.

Em razão disso, entendemos urgente fomentar e ampliar ações para que valores que impliquem educação no trânsito sejam alcançados a toda sociedade. Sejamos então agentes multiplicadores de informações e valores que impliquem respeito e responsabilidade no trânsito. Temos de ser exemplo, nossos jovens, nossas família precisam disso. Não podemos esperar até perder um amigo ou um parente, ou até errarmos nós mesmos. Chega de dor, precisamos de VIDA."

Heder Macedo - Chefe da Delegacia de Polícia Rodoviária Federal em Santa Maria/RS.