Durante diálogo com um paciente, o mesmo me fez uma pergunta interessante, que pode soar um tanto simplória, mas que acabou sendo perfeita para a viagem na explicação subsequente. Muitas pessoas ainda se sentem intrigadas a respeito dessa pergunta, mas tentei explicar através da visualização mental da imagem que meu paciente criou.

É a seguinte: Por que quando nos cortamos, por exemplo, o corte sara mais rapidamente do que quando temos um adoecimento psíquico, um corte ou cicatriz na alma?

Primeiramente devemos relembrar o significado cru da palavra psique, que é de origem grega e é usada para descrever alma ou espírito. Ela passou a ser relacionada a psicologia com a conotação de mente ou ego e, aqui nos referimos unicamente a isso, sem ligação com religião ou espiritualidade.

Pois bem, o corte é feito de forma imediata, no dado momento do acidente. O machucado que afeta nossa estado psicológico, na grande maioria das vezes, é uma ferida que vem sendo de forma recorrente e gradativamente reavivada com os acontecimentos, traumas, vivências dolorosas e falta de coragem para o enfrentamento do problema e busca por ajuda, e isso tudo por longos anos.

Pensemos de forma consciente que, quando nos machucamos, a primeira reação é fazer uma limpeza nas impurezas possíveis, colocar um remedinho que vá ajudar na cicatrização, colocar um curativo e cuidar até sarar. Isso se dá de maneira rápida. Já o sofrimento psicológico, mental, emocional vem sendo negligenciado pelo paciente muitas vezes por um longo tempo e quando finalmente é decidido tratar, essa ferida já está bastante alastrada e mesmo resistente a possíveis "medicações". Para limpar a ferida não é necessário meramente um bom sabão antibacteriano e uma água oxigenada, afinal, são anos de acumulo de “bactérias” resistentes, a limpeza é bem mais profunda e demorada. Precisamos eliminar sujeiras escondidas no fundo de nosso interior ou inconsciente, mas primeiro precisamos encontra-las já que não temos raio X ou tomografia para detectar nossos problemas de saúde internos (psíquicos).

Isso é intrigante, isso é misterioso, isso é motivo de ansiedade, de angústia... Pois, quando estamos doentes queremos ficar curados logo, muitas vezes com passe de mágica. Só que as doenças psíquicas não são palpáveis, não conseguimos tratar de maneira imediata. É preciso muito empenho, um tanto de paciência, persistência e esperança e isso vai determinar o tempo para obter sucesso. Mas é possível sim encontrar o “remédio” para a ferida. Mas ele também não é palpável e vem através da fala e do enfrentamento. Esse remédio é a paz tão almejada e que, na verdade é o que todo ser humana precisa para se curar!

*Marianita Ortaça é psicóloga, cantora e instrumentista. Tem consultório e reside em São Luiz Gonzaga, na região missioneira. É filha de Pedro e Rose Ortaça. Irmã de Alberto e Gabriel. Realiza palestras em todo o Estado, especialmente sobre temas relacionados a psicologia.