Coluna de Marianita Ortaça: Retribuição de Cuidados - A Família e a Doença de Alzheimer Postado sexta-feira, 20 de janeiro de 2017 ás 13:55
RETRIBUIÇÃO DE CUIDADOS
A FAMÍLIA E A DOENÇA DE ALZHEIMER
A família é unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligado por laços afetivos. Esta desempenha fundamental papel no cuidado, intervenção e informações quanto ao paciente na doença de Alzheimer, assim como em outras enfermidades.
Segundo Vilela e Caramelli (2006), como uma entidade única, a família é uma preciosa fonte de informações a respeito do paciente, além de participar e ajudar a monitorar todas as intervenções. O conceito de família, ao ser abordado evoca obrigatoriamente os conceitos de papéis e funções que cada membro desta deve desempenhar.
Na velhice, o processo de perda da capacidade de auto-cuidado parece que tende a aprofundar-se, sendo que em um sujeito portador de doença de Alzheimer esse processo é ainda mais rápido e premente. Vai-se criando, a cada dia, uma maior dependência para com aquele que cuida (CALDAS, 2000).
Segundo Luzardo, Gorini e da Silva (2006), a sobrecarga do cuidador é grande. A pessoa que se dispõe a cuidar de seu familiar/ portador de Alzheimer está sujeita à produção de demandas de cuidado cada vez maiores. Isto afeta sua dimensão física, mental e social, como podemos perceber nas falas das participantes desta pesquisa. Estes (as) cuidadores (as) assumem um compromisso que transcende uma relação de troca, sem que exista qualquer garantia de retribuição, testam assim seus limites psicológicos, podendo ser acometidos por uma carga emocional bastante intensa, isso resulta muitas vezes em uma má qualidade de vida para estes indivíduos (LUZARDO;GORINI E DA SILVA, 2006).
Para definir quem será o (a) cuidador(a) do familiar doente, a família tem de se reorganizar e negociar para definir quem teria mais disponibilidade de tempo, bem como o desejo de querer cuidar (CATTANI & GIRARDON-PERLINI, 2004). Muitas vezes a “carga” fica para apenas uma ou duas pessoas, sendo que o restante dos familiares, no caso (nesta pesquisa), os outros filhos, não ajudam e muitas vezes visitam muito pouco a família/portador, como falam todas as participantes desta pesquisa.
CATTANI& GIRARDON-PERLINI (2004) afirmam que cuidar da mãe ou pai na velhice possibilita a retribuição de valores, de cuidados e também, de certa forma, o fato de existirem, como expressa uma das participantes desta pesquisa ao ser questionada porque cuidava da mãe: “eu cuido porque ela me deu a vida”. Considerando os fatores que motivam a tarefa de cuidar, evidencia-se no cuidado uma forma de agradecimento pelos esforços realizados pela mãe e/ou pai ao criá-los, pelas experiências vividas assim como os cuidados e atenção recebidos no passado, quando os filhos eram dependentes dos pais.
Texto extraído do artigo científico "A Família e a Doença de Alzheimer" de autoria de Marianita Ortaça e Deise Francisco.
*Marianita Ortaça é psicóloga, cantora e instrumentista. Tem consultório e reside em São Luiz Gonzaga, na região missioneira. É filha de Pedro e Rose Ortaça. Irmã de Alberto e Gabriel. Realiza palestras em todo o Estado, especialmente sobre temas relacionados a psicologia.
Postar um comentário