Artigo: Em busca de Saúde, gaúchos e gaúchas estão voltando para casa em caixões

Artigo: Em busca de Saúde, gaúchos e gaúchas estão voltando para casa em caixões Postado terça-feira, 19 de agosto de 2014 ás 20:52

Foto: Valdinei Marques/Jornal Editor.

Impressiona e preocupa o número de acidentes de trânsito envolvendo veículos da área de Saúde no Rio Grande Sul. A maioria com vítimas fatais. São gaúchos e gaúchas que morrem quando estão em busca de qualidade de vida. De saúde.

A ambulancioterapia é comum no Estado e em grande parte do país. Rara é a cidade que não leva seus municípes para consultas e exames médicos em outros municípios. As viagens são diárias, longas e geralmente iniciam de madrugada, nas primeiras horas da manhã. É justamente nesse horário que acontecem os acidentes.

Em abril, seis pessoas de Santiago (todas mulheres incluindo uma criança), morreram na BR 287 em São Vicente do Sul. Um micro-ônibus da Secretaria Municipal da Saúde bateu em um caminhão por volta das 5h20min. Nesta semana, pelo menos duas mortes na região também envolvendo veículos de Secretarias Municipais da Saúde. A primeira morte foi na segunda-feira em Itaqui. A segunda morte foi nesta terça-feira em Alegrete.

Levantamento feito por Zero Hora, no dia do acidente com o micro-ônibus de Santiago, em abril, mostrou que em cinco anos, pelo menos 23 pessoas morreram em acidentes de trânsito relacionados a ambulancioterapia.

Os recentes casos de mortes no Estado enquanto se buscava saúde, trazem o assunto novamente ao debate. O direito à saúde é garantido na Constituição, a todo brasileiro, porém nem sempre o tratamento necessário está próximo do cidadão. Surge, então, a necessidade de enfrentar as estradas. Os governos Federal e Estadual estão buscando regionalizar os atendimentos em Saúde, mas o processo é lento e enquanto não se concretiza, novas mortes aumentam as estatísticas.

Outro fator preocupante e geralmente deixado de lado, é a carga horário dos motoristas. Com viagens diárias, geralmente são os mesmos motoristas que enfrentam as estradas todos os dias. Cansaço, sono atrasado e estresse são fatores que colaboram para as mortes. E, infelizmente, não se vê em nenhuma prefeitura gaúcha um trabalho junto aos motoristas. São seres humanos, passíveis de erros mas também vítimas do sistema de saúde atual.

Caberia aos gestores gaúchos, especialmente em cidades do interior, oferecer um atendimento especializado para os motoristas: psicológico, motivacional, educacional. Prevenir é sempre o melhor remédio.

Contratar mais profissionais, através de concursos públicos, para o trabalho seria também uma boa estratégia, talvez a melhor. Nunca é exagero ter mais profissionais neste setor, assim a escala de trabalho seria melhor dividida, proporcionando mais folgas e menos carga horário de viagens.

Algo tem que ser feito o mais rápido possível. Um debate local, regional e nacional sobre o tema deve ocorrer, "pra ontem". Ações imediatas precisam ser tomadas antes que mais pessoas que saem de suas casas em busca de saúde retornem em caixões.

Não tenho domínio deste assunto, mas por noticiar tantas tragédias sinto-me no dever, como imprensa, de sugerir ações que minimizem as mortes. Os acidentes vão continuar a acontecer, mas com prevenção, o número de mortes poderá ser menor.

Rafael Nemitz

Radialista e Blogueiro.