Artigo "direitos humanos", de advogado e professor da URI Santiago, repercute nas redes sociais Postado quarta-feira, 7 de novembro de 2018 ás 21:59
Antonio Augusto Biermann Pinto tem sido elogiado por ter escrito esta semana, um artigo denominado "direitos humanos". Diante da repercussão positiva do texto do advogado e professor Guto, como é conhecido em Santiago, o Blog tomou a liberdade de publicá-lo.
"direitos humanos"
Eu te vejo pregando, com um misto de fúria e êxtase, contra os “direitos humanos”. Assim mesmo você escreve, entre aspas e com letras minúsculas, para deixar bem claro que você considera Direitos Humanos algo pequeno e fora de você. Mais do que isso. Uma besteira que algum acadêmico, que nada tinha de importante a fazer, inventou para ser tema de teses e dissertações. Esses acadêmicos e professores... você pensa.
Que “direitos humanos” o quê, você diz. E desata a discorrer sobre como os tais de “direitos humanos” acabaram com a paz na terra, paz essa que seu coraçãozinho bom e decente entende que deve ser mantida na base do "quem puder mais chora menos", ou do "manda quem pode obedece quem precisa", ou, ainda, e aqui posso ver teus olhos brilhando enquanto escreves, na porrada mesmo. Teu argumento é incrível: vamos acabar com a violência nem que seja a pau. Porque violentos são sempre os outros, não?
Porque, na tua opinião, quem não deve não teme, e “direitos humanos” são um contrassenso, porque tua acreditas que quem clama por direitos humanos são justamente os que tu não consideras humanos. São os "diferentes", os “desviados”, os “párias”, a “escória”. Essa “gentinha inferior”que nem direitos deve ter, como dizem por aí.
E dá-lhe texto e fotinho contra os “direitos humanos”. A liberdade de manifestar as nossas opiniões é muito massa, né? Pois é. Coisa boa poder falar livremente dos “malditos direitos humanos” e seus efeitos nefastos na criação da sociedade perfeita e de sonhos, em que eles não existiriam, que vai pela tua mente. Coisa boa poder dizer, para quem quiser ouvir, que a desgraça do mundo são os “direitos humanos”, não é mesmo?
Mas coisa boa mesmo, é que, pra tua sorte, se o tempo virar (pois já dizia Dorival Caymmi, numa música linda chamada “Milagre”: “se sabe que o tempo muda, se sabe que o tempo vira”), e tua pregação der certo, e se o corvo que tu criaste quiser te arrancar os olhos, se o lobo que tu alimentaste resolver que tu agora és alimento e não mais a mão que alimenta, se isso acontecer, ao teu primeiro grito de socorro, sabe quem virá? Tu poderias pensar, num rasgo de arrependimento: ninguém, porque eu ajudei a acabar com quem sempre ajudou, não é isso? Mas não.
Em teu socorro virão os DIREITOS HUMANOS, os com letra maiúscula, aqueles que tu juravas que não serviam para nada. Eles virão em teu socorro. Porque, para tua surpresa, contra tudo e contra todos, eles nunca morrem. E virão não por que és tu. Não pelo teu nome ou teu dinheiro, ou tua posição ou tua fama. Eles virão independentemente de quem és, ou pensas ser. Eles virão porque és humano, e apesar do teu desprezo pelos Direitos Humanos, os humanos continuarão a ter direitos que devem ser reconhecidos e respeitados e protegidos. E continuarão a ter quem lute por eles.
Tu tens Direitos Humanos, sempre os terá, mesmo que não os queira, mesmo que não os entenda, mesmo que não os reconheça. Felizmente, para ti, os Direitos Humanos existem para além de ti e virão, se precisares.
Podes continuar a tua pregação contra os “direitos humanos”. Os DIREITOS HUMANOS garantem que possas fazê-lo. Ainda que queiras silenciá-los, para tua sorte, os maiúsculos DIREITOS HUMANOS, porque és humano, quando for preciso, sem fúria e sem rancor, gritarão em teu favor.
Se me permite fazer uma observação: o problema dos direitos humanos é que não aparecem esses direitos quando matam um filho, estupram uma filha. Pais que quem sabe são assistidos por psicólogos ou psiquiatras...mas não ouço falar de... direitos humanos.
Muito bom, muito oportuno! Parabéns!!!