No meio da madrugada de 27 de Janeiro de 2013, o fogo consumiu mais do que espuma e móveis. Consumiu vidas, sonhos, futuros. Naquela noite, quem experimentava a liberdade de uma noite de sábado, tornou-se uma presa simples de um destino impiedoso, envolto por fumaça densa e tóxica, sem alternativa. As portas se fechavam e entre gritos, empurrões e pisoteios, a vida lhes mostrava que acaba sem aviso.

A morte foi jovem naquela noite. Muitos se encontraram sem defesa, vítimas da falta de segurança, da negligência e do descaso com a vida humana. Não houve escolha, tampouco tempo. Centenas de fugas dentre centenas de presos num labirinto mortal.

O incêndio da Kiss não acabou naquela noite. Ele continua, até hoje, queimando em silêncio os corações de quem permaneceu e tenta sobreviver. Pais e mães que enterraram seus filhos em silêncio não resistiram à dor e partiram cedo demais. A dor nunca adormece com uma cadeira vazia na mesa de domingo, ou uma lembrança ao abrir um álbum de fotos.

Os sobreviventes carregam marcas visíveis e invisíveis. Corpos que ficaram com sequelas físicas e mentes que hoje habitam um campo de batalha próprio, onde o terror daquela noite nunca se dissipou. Tenta-se encontrar sentido no que sobrou.

O incêndio da Kiss nos lembra que massacres não têm um ponto final enquanto não provocam transformações. E até quando a sociedade preferirá virar o rosto e se esconder, ao invés de ouvir esses gritos que, mesmo abafados, ainda clamam por justiça?

Para honrar essas vidas, é preciso encarar de frente a responsabilidade coletiva e finalmente transformar as lágrimas em ações concretas que impeçam novas tragédias. Só assim as lembranças dessas vidas perdidas poderão encontrar paz, e a sociedade poderá, enfim, caminhar com a consciência de que aprendeu com seu passado.