Saúde Mental: Como filtros no Instagram afetam a autoimagem dos jovens? Postado terça-feira, 21 de janeiro de 2025 ás 20:50
Artigo escrito pela médica psiquiatra Drª Karine Peixoto.
Há poucos dias, o Instagram tirou do ar 2 milhões de filtros da rede social no mundo todo. Você já parou para pensar como esse filtros afetam a autoimagem dos jovens?
Criado pelo brasileiro Mike Krieger e pelo americano Kevin Systrom, o Instagram surgiu em 2010. Tão rápido como um passe de mágica, a rede social ganhou milhões de adeptos em todo o planeta. Inicialmente, os filtros do Instagram eram usados de forma divertida e apenas para “se fantasiar”, com orelhinhas e bigode de bichinhos ou com óculos coloridos e divertidos.
No entanto, logo os efeitos deixaram de ser brincadeiras inofensivas e se transformaram em recursos usados para mudar completamente a aparência e distorcer a autoimagem dos usuários. Numa era onde as redes sociais e a obsessão pela imagem se entrelaçam de maneira desordenada, os filtros do Instagram emergem como protagonistas dessa busca incansável pela perfeição.
O que começou como uma forma inofensiva de aprimorar fotos e imagens, evoluiu para uma obsessão global pela idealização inatingível da perfeição.
Ilusão da Perfeição: Os filtros do Instagram são magos da ilusão, capazes de transformar radicalmente a aparência das pessoas. Essa incessante busca por uma imagem idealizada frequentemente leva a um estado constante de insatisfação com a própria imagem e a uma necessidade infindável de aprimoramento.
Impactos na Autoestima: A constante comparação com imagens retocadas nas redes sociais frequentemente mina a autoestima. Muitas pessoas se veem como inadequadas, feias ou imperfeitas quando confrontadas com imagens idealizadas.
Como eles contribuem para a distorção da autoimagem dos jovens?
Quanto aos impactos do uso de redes sociais, um dos aspectos mais observados é a exposição espetaculizada e irreal da autoimagem. Ainda que cada usuário faça isso de modo diferente, os objetivos têm um denominador comum: a busca de aceitação por meio da construção de uma imagem ficcionada.
Dentro desse contexto, os filtros possibilitam uma situação paradoxal: o usuário precisa esconder o seu “eu” verdadeiro, em troca da exposição do “eu” que gostaria de ser. No entanto, esse comportamento sinaliza uma vertente — cada vez mais presente — e preocupante: o efeito negativo sobre a autoestima e os prejuízos emocionais associados a ele.
O mau uso das redes sociais e a adesão aos modismos que, muitas vezes, são influenciados por celebridades e mecanismos midiáticos, podem agravar o surgimento de distúrbios de personalidade, como o borderline. Salvo exceções, a busca de curtidas na plataforma objetiva mimetizar a sensação de vazio existencial, sentimentos de tristeza, angústia e depressão.
Ha uma notável influência do uso de filtros do Instagram sobre a autoimagem de seus usuários. Grupos mais vulneráveis, como adolescentes e jovens da geração Z, são os mais prejudicados. Além dos riscos de afetar a autoestima, os conflitos típicos da idade potencializam as ameaças do desenvolvimento de transtornos de personalidade.
Quais problemas mentais podem ocorrer?
Distúrbios alimentares
Com a influência da globalização e o avanço dos meios de comunicação, observou-se uma transformação do padrão estético idealizado pela sociedade. Esse novo modelo passou a preconizar uma imagem corporal magra e, de preferência, o mais próximo possível do que se acredita ser a perfeição.
A adoção de um comportamento alimentar com dietas rígidas e mudanças drásticas é motivada pelo desejo de pertencimento social, com vistas à percepção de uma autoimagem positiva. Sendo assim, muitos não se preocupam com as consequências ruins, desde que sua aparência se encaixe no ideário contemporâneo.
Por tal razão, adolescentes e jovens adotam mudanças radicais no estilo de vida e se esquecem da intrínseca relação entre alimentação e saúde mental.
Bulimia, anorexia e outros desajustes nutricionais são exemplos dos prejuízos causados por esse estilo de vida. Logo, é necessário incentivar a busca de suporte profissional especializado para ajudar quem se encontra nessa situação.
Transtornos emocionais
O uso prejudicial de filtros do Instagram está associado ao surgimento de distúrbios psicológicos, principalmente, crises depressivas, ansiedade e dificuldade para lidar com a frustração. No afã de atingir seus “objetivos virtuais”, os usuários ignoram a própria realidade e se esquecem de cuidar de sua saúde física e emocional.
Um estudo realizado por cientistas britânicos — e publicado em um artigo da Universidade Federal de Viçosa (MG) — abordou os impactos negativos decorrentes da relação entre Instagram e saúde mental de jovens entre 14 e 24 anos de idade. Os problemas mais apontados na rede foram o bullying, a solidão e a distorção da imagem corporal.
O objetivo dessa pesquisa foi a avaliação do efeito das mídias sociais sobre o comportamento dos jovens participantes. Assim como acontece por aqui, no Reino Unido, a situação também é preocupante. Entre os aplicativos analisados, o Instagram foi eleito a pior rede social em relação aos agravos sobre a saúde emocional e mental dos usuários.
Prejuízos afetivos, sociais e profissionais
Pessoas que utilizam muito os filtros do Instagram acabam perdendo um tempo precioso e que poderia ser utilizado de forma mais construtiva. Por esse motivo, o excesso no tempo de tela em busca da criação de uma imagem perfeita pode gerar prejuízos na vida afetiva, social e profissional.
Nessas circunstâncias, ocorre uma inversão de prioridades: o compartilhamento de imagens é visto como a atividade mais importante. Contudo, quando o usuário decide buscar o que acredita ser a perfeição, mais próxima da aparência computadorizada, há o apelo para cirurgias plásticas e para modificações drásticas no estilo de vida.
Como você percebeu, muitos são os efeitos negativos do mau uso das redes sociais sobre a saúde mental. A necessidade constante de aprovação dos pares é um dos pilares que sustentam as mudanças comportamentais, que levam a prejuízos como a distorção da autoimagem.
Portanto, o cuidado com as emoções e o incentivo à reflexão sobre os efeitos dos filtros do Instagram na vida moderna também pode ajudar a contornar esse problema.
Contudo, é preciso encaminhar os jovens para acompanhamento com profissionais especializados, a fim de prevenir desordens mentais decorrentes dessa busca incessante pela perfeição.
Atendimento
Com 26 anos dedicados à medicina, à Drª Karine atende em seu consultório, em Santiago, na Pronto Clínica (Rua Tito Beccon, 1557), no Centro, com horários diferenciados que incluem sábados e feriados.
Agendamento de consultas e mais informações sobre tratamentos pelos telefones (55) 3251-2933 ou pelo WhatsApp (55) 9.9981-2397.
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