O Picolezeiro, artigo de Marianita Ortaça sobre construção profissional Postado sábado, 4 de novembro de 2017 ás 13:24
O Picolezeiro
Sobre construção profissional
Quando olhei os carrinhos de picolés parados em frente a sorveteria, me chamou a atenção a inutilidade enferrujada dessa profissão quase esquecida no abandono da cultura do menino picolezeiro.
Aqueles carrinhos que passeavam pelas ruas da minha e da tua infância e que quase nos matavam de tanta alegria e empolgação. Os carrinhos que nos faziam perder o fôlego por tanto correr gritando: “para, para picolezeiro” e depois nos deliciavam na prazeirosa escolha entre mini-saia, abacate, morango, creme ou leite condensado ou... nos dias especiais, uma moreninha - que refrescava nossa alma e adoçava nossa vida de criança.
Pois bem, cadê o menino picolezeiro? Onde estão as crianças que corriam pelas ruas ao som do apito mágico do menino mais popular da vila, do centro, da cidade. O menino que todos queriam que passasse.
O picolezeiro sumiu e a alegria das nossas crianças de hoje, não é a mesma, a infância pobre mas de ricos aprendizados dele também.
Essa primeira profissão ensinou de onde vem o dinheiro para renomados profissionais de hoje, ensinou-os a conquistar o pão de cada dia, granjeando seu tostão com dignidade e honestidade. Foi um curso de vida em estratégia de vendas. Fez homens dignos e de bons negócios e principalmente gratos e orgulhosos de seu passado que talvez os tenha feito despertar a vontade de trabalhar e vencer.
Quem aí nunca torceu para o picolezeiro passar? Humildade, caráter, honestidade, valorização, anseio, persistência através da experiência moldaram o picolezeiro Lourenço que com apenas 12 anos começou a trabalhar vendendo picolés para ajudar no sustento da família. Lourenço* não deixou de estudar e de lambuja, aprendeu muitas coisas que os bancos escolares não ensinam. Hoje ele é um homem afortunado, cresceu aprendendo a valorizar pequenas coisas, trabalhou fora do país, conquistou mais que bens materiais e voltou para perto de sua família, aquela que ele ajudou a prover com tenra idade.
Toda criança precisa de aprendizagem e bons exemplos, tem o direito de estar na escola, mas também deveria, de forma equilibrada é claro, ter o privilégio de aprender a trabalhar.
*Lourenço (nome fictício)
*Marianita Ortaça é psicóloga, cantora e instrumentista. Tem consultório e reside em São Luiz Gonzaga, na região missioneira. É filha de Pedro e Rose Ortaça. Irmã de Alberto e Gabriel. Realiza palestras em todo o Estado, especialmente sobre temas relacionados a psicologia.
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